Raul Seixas faria 75 anos hoje: conheça mais 5 álbuns de sua trajetória

Em 28 de junho de 1945 nascia em Salvador Raul Santos Seixas, o eterno Maluco Beleza. Se estivesse vivo, Raulzito, como era chamado no início de sua carreira, estaria completando 75 anos. Em agosto de 2019, época em que completaram 30 anos de sua morte, o Sons, Batidas & Pulsações fez uma lista de cinco discos fundamentais para entender a trajetória de Raul. Alguns álbuns muito bons ficaram de fora, portanto faremos uma nova lista com mais cinco pérolas presentes em sua discografia. Confira!

Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (CBS, 1971)

Após o fracasso do único álbum do grupo Raulzito e Os Panteras (EMI-Odeon, 1968), Raul foi levado por Jerry Adriani (1947-2017) à gravadora CBS (atual Sony Music) para trabalhar como produtor e compositor. Fez trabalhos com artistas oriundos Jovem Guarda, alguns deles considerados bregas pela crítica especializada como Odair José, Wanderley Cardoso, Diana, Renato e seus Blue Caps e Leno, com quem trabalhou no icônico Vida e Obra de Johnny McCartney (Sony, 1995), lançado apenas nos anos 1990 por ter sofrido problemas com a censura em 1971.

Apesar de estar financeiramente estabilizado, Raul estava insatisfeito com os rumos que sua carreira havia tomado e ainda sonhava com o sucesso como cantor. Esse desejo só aumentou ao conhecer o capixaba Sérgio Sampaio (1947-1994) e contratou-o para a gravadora CBS. Na mesma época, Raul também havia contratado um velho amigo, o artista Edy Star. Com os dois, começou-se a vislumbrar um novo projeto e Edy trouxe Miriam Batucada (1947-1994), que também tentava emplacar uma carreira de sucesso.

Planejado como um álbum conceitual, o projeto foi batizado de Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 e gravado às escondidas, pois a CBS não acreditava no potencial de Raul como artista. O disco apresenta diversas composições em parceria com Sérgio Sampaio, como a brega “Êta Vida”, o rock com toques nordestinos “Quero Ir” e a viajante “Eu Vou Botar pra Ferver”.

Outros destaques do álbum são a seresta “Sessão das 10”, a balada “Eu Não Quero Dizer Nada”, ambas interpretadas por Edy, “Eu Acho Graça” e “Todo Mundo Está Feliz” por Sérgio, “Aos Trancos e Barrancos”, samba composto por Raul, a psicodélica “Dr Pacheco”, “Chorinho Inconsequente” e “Soul Tabarôa” da dupla Antônio Carlos & Jocafi, ambas cantadas por Miriam. Outra característica inusitada do trabalho são as vinhetas entre as canções.

Inúmeras lendas cercam o álbum. Entre elas o preço das gravações do disco, estimada em 24 milhões de cruzeiros e a história de que Raul teria sido demitido da CBS logo após o lançamento do projeto. O fato é que Sociedade da Grã Ordem Kavernista foi retirado de catálogo pouco tempo depois, tendo pouquíssima repercussão. Foi relançado em CD somente na década de 1990 em tiragens pequenas e recebeu uma edição especial em LP pela série Clássicos em Vinil da Polysom em 2018. O álbum não está presente nas plataformas digitais.


Há 10 Mil Anos Atrás (Phillips, 1976)

Um dos momentos altos da carreira de Raul, Há 10 Mil Anos Atrás foi o último lançamento do cantor pela Phillips, gravadora onde estava desde 1973.

Lançado no final de 1976, o álbum é uma retomada aos assuntos místicos, deixados de lado em Novo Aeon (Phillips, 1975). A gravadora também queria um trabalho mais comercial e pressionou Raul durante as sessões de gravação, que foram tensas. Em alguns dias, ele recusava-se gravar e aparecia embriagado no estúdio.

Apesar dos problemas e da fria recepção por parte da crítica, o álbum obteve o resultado comercial esperado através de “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás” e “Eu Também Vou Reclamar”, uma crítica às canções de protesto que trazia indiretas à Sílvio Brito, Hermes Aquino e Belchior (1946-2017), cantores de grande sucesso naquele período.

O disco também traz o tango “Canto Para Minha Morte”, uma versão hard rock de “As Minas do Rei Salomão”, gravada originalmente em seu primeiro álbum solo Krig-há, Bandolo! (Phillips, 1973), “Meu Amigo Pedro”, composta em homenagem a seu irmão Plínio, o rock “O Dia da Saudade”, a belíssima “Ave Maria da Rua”, o xote “Os Números” e as baladas “Quando Você Crescer”, “O Homem” e “Cantiga de Ninar”.


O Dia em que a Terra Parou (WEA, 1977)

Primeiro disco pela Warner Music, O Dia em que a Terra Parou representa uma forte ruptura na carreira de Raul, que havia rompido sua pareceria com Paulo Coelho. O álbum tem a presença do compositor Cláudio Roberto em todas as faixas, com um texto mais simples e popular, porém ainda intenso.

Apesar de não ter sido bem recebido pela crítica e não ter atendido as expectativas comerciais da gravadora, o disco também é um dos pontos altos da carreira de Raul e apresenta o hino “Maluco Beleza” e a faixa título, que obtiveram ótimas execuções nas rádios de todo o Brasil.

“Maluco Beleza”, que tornou-se um dos apelidos de Raul, foi inspirada na vida de Cláudio Roberto, pois era visto como “doido” em Miguel Pereira, interior do estado do Rio de Janeiro, onde residia. Recentemente, a música “O Dia em que a Terra Parou” voltou a ser lembrada nas redes sociais em decorrência da pandemia de COVID-19, que vem atingindo o mundo desde março.

O álbum traz outros destaques como os funks “Tapanacara” e “De Cabeça pra Baixo”, que abrem e fecham o disco respectivamente, ambas com a participação da Banda Black Rio, o iê-iê-iê “Eu Quero Mesmo”, o hino “Sapato 36”, a hard “No Fundo do Quintal da Escola”, o bolero “Você”, o baião “Que Luz é Essa?” e a balada “Sim”.

O Dia em que a Terra Parou foi relançado no final da década de 1980, quando Raul voltou à Warner Music para gravar seu último disco, A Panela do Diabo, ao lado de Marcelo Nova.


Raul Seixas (Eldorado/EMI-Odeon, 1983)

Após ficar três anos longe dos estúdios e enfrentar diversos problemas para manter-se no cenário musical, Raul Seixas volta com um disco homônimo lançado pela gravadora paulistana Eldorado com distribuição pela EMI-Odeon.

Desde que saiu da CBS, onde havia lançado o álbum Abre-te Sésamo em 1980, Raul tentava voltar ao cenário musical. Fez um show histórico no Festival de Verão de Santos de 1982 para uma plateia de 180 mil pessoas e ofereceu para diversos produtores um projeto intitulado Nuit, uma ópera rock feita em parceria com sua então esposa Kika Seixas sobre a deusa da noite na religião Thelema. Nenhuma gravadora teve interesse, exceto o selo Eldorado, que contratou o cantor no início de 1983.

Com algumas canções que estariam em Nuit e outras fora do conceito do projeto, Raul entrou em estúdio e iniciou o que é considerada por muitos, a última fase de sua carreira. A convite de Augusto César Vannucci (1934-1992), compôs a música “O Carimbador Maluco” que entrou para o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum, exibido pela Rede Globo em junho daquele ano. Apesar do álbum já estar pronto, a gravadora quis incluir a canção no projeto e a canção veio em um compacto bônus junto com o disco. “Carimbador” tornou-se o principal sucesso do disco, garantindo o segundo disco de ouro da carreira de Raul e um breve retorno a grande mídia. O trabalho foi tão bem sucedido que Raul foi contratado pela gravadora Som Livre no final daquele ano.

O disco, que também foi bem recebido pela crítica, traz canções mais leves como a folk “Coisas do Coração”, as baladas “Coração Noturno”, “Lua Cheia” e “Segredo da Luz”, a latina “Eu Sou Eu, Nicuri É o Diabo” e um flerte com a música nordestina em “Capim Guiné” e “Quero Mais”, essa última com a participação de Wanderléa.

O rock and roll também está presente na já citada “Carimbador Maluco”, “D.D.I. (Discagem Direta Interestelar)”, “Aquela Coisa”, “Babilina” e na genial “Não Fosse o Cabral”, além de uma versão ao vivo da música “So Glad You’re Mine”, de Arthur Crudup, regravada por Elvis Presley.


Metrô Linha 743 (Som Livre, 1984)

Gravado em 1984, Metrô Linha 743 foi o único trabalho de Raul lançado pela Som Livre. Com uma sonoridade folk, é considerado por alguns o primeiro álbum acústico da história do rock nacional, muito antes do formato invadir as paradas de sucesso através da MTV Brasil nos anos 90 e 2000.

Para esse disco, Raul buscava um conceito, tendo sua capa e encarte em preto e branco, com referências a Alfred Hitchcock (1889-1980) e George Orwell (1903-1950), autor do livro Nineteen Eighty-Four (1984), ano de gravação e lançamento de Metrô Linha 743.

Com regravações como “Eu Sou Egoísta”, com citações a Bob Dylan e Caetano Veloso e “O Trem das Sete”, o álbum é formado por músicas em parceria com Kika Seixas, Cláudio Roberto e o guitarrista Rick Ferreira. Destaque para a faixa título, comparada a “Ouro de Tolo” e “Highway 61 Revisited” de Bob Dylan, canções fortes como “Um Messias Indeciso”, “Quero Ser o Homem Que Sou (Dizendo a Verdade)”, “Canção do Vento” e “Mamãe Eu Não Queria”, os rocks “Meu Piano” e “A Geração da Luz” e o country romântico “Mas I Love You (Pra Ser Feliz)”.

Apesar da baixa vendagem, Metrô Linha 743 foi bem recebido pela crítica especializada e até hoje é um dos trabalhos mais elogiados de toda a trajetória de Raul. Foi relançado em CD pela Som Livre em 2003 com a música “Anarkilópolis”, que serviu de inspiração para “Cowboy Fora da Lei”, um de seus grandes sucessos, gravado no disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (Copacabana, 1987). Em 2018 recebeu duas edições especiais em LP feitas pelo 180 Selo Fonográfico em parceria com a Record Collector Brasil. Uma tiragem com vinis pretos e outra com discos transparentes.


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